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Estou falando com todos nós e espero não estar falando sozinha

As mudanças estão nos cobrando um posicionamento claro sobre o papel da nossa indústria no contexto atual. E mais que isso, nos cobrando ações


25 de abril de 2019 - 13h28

Painel “A Tradicional Família Brasileira” (Crédito: André Valentim)

Durante décadas a indústria da comunicação reproduziu comportamentos nocivos como se não houvesse amanhã. Legitimou o machismo, menosprezou a força, o valor e a inteligência das mulheres, ridicularizou gays e lésbicas, constrangeu mães separadas ou “solo”, negando configurações familiares fora do “modelo tradicional”. Ignorou a existência de negros e negras e excluiu milhares de pessoas com padrões de beleza que escravizam, sobretudo, as mulheres.

Ao retratarmos uma sociedade inalcançável, carregada de estereótipos equivocados de perfeição e completamente distante do Brasil de verdade, acreditávamos estar elevando os patamares de desejo por marcas e produtos. Por um tempo conseguimos. Parece-me que estávamos em transe, anestesiados, vivendo uma realidade paralela.

Só isso explica o fato de ignorarmos que o Brasil tem 53% de pessoas que se declaram negras ou pardas. Que em 10 anos os casais héteros, com filhos e morando na mesma casa, caíram de 58% para 43% do total de famílias brasileiras. Que atualmente as mulheres são a principal fonte de renda de 45% dos lares do País e, mesmo mais empoderadas do que nunca, a cada duas horas uma mulher é assassinada aqui. Que o número declarado de casais homoafetivos é de 58 mil e seria muito maior caso não existisse o medo de declarar e formalizar essa união – afinal, o Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo.

Acontece, meus caros, que as mudanças estão nos cobrando um posicionamento claro sobre o papel da nossa indústria no contexto atual. E mais que isso, nos cobrando ações.

Os grupos que até pouco tempo atrás eram considerados “minorias” estão se fortalecendo década após década. Mulheres, mães solo, LGBTQIA+, Negros e Negras, PCDs (pessoas com deficiência) estão tomando as ruas, resistindo e existindo.

O excesso do gerúndio na frase acima mostra que é nesta forma nominal, no gerúndio, que a mudança acontece. Estamos caminhando, mas ainda temos muito que caminhar.

Sabemos bem que em pleno 2019 ainda existem aqueles que se perguntam se a publicidade precisa mudar, se tem mesmo de ser politicamente correta. Outros tantos acreditam que as pessoas querem ver aquilo que não são, espelham-se no que é aspiracional, adoram ver gente idealizada na comunicação. Dizem que consumidores em geral não querem ver dois homens ou duas mulheres se beijando. Que é problematizar a comunicação. E por aí vai.

Tudo isso é uma sucessão de equívocos. São afirmações preconceituosas que legitimam os comportamentos nocivos que foram citados no início deste artigo e muito outros.

As pessoas se sentem oprimidas, sem voz e rotuladas pelo velho jeito de fazer propaganda. Elas construíram uma outra visão de si mesmas, estão lutando pelo seu espaço, não aceitam o desrespeito, valorizam o que são.

Meus caros, o planeta é plural. O mínimo que podemos fazer diante disso é abraçar tal pluralidade em todas as nossas ações: da cultura interna ao jeito de se comunicar. Quando marcas poderosas e importantes se posicionam a favor do ser humano, a humanidade evolui.

Artigo inspirado no painel “A Tradicional Família Brasileira”, do Rio2C, onde tive o prazer de dividir o palco com Ana Cortat, Thais Fabris e Denise Gallo.

Fonte: Panad/IBGE. Estudo Pelas Famílias Brasileiras, realizado pela 65/10 em parceria com a Contente.

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