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Criatividade sem mitos

Os cases de sucesso do vale do Silício são, de fato, grandiosos, a história recente está sendo escrita por eles, mas acredito que nós estaremos bem mais inspirados a inovar se prestarmos atenção nas histórias que estão sendo construídas com criatividade ao nosso redor


26 de abril de 2019 - 17h41

Ao desembarcar pela primeira vez no Rio2C, o maior evento de criatividade e inovação da América Latina, me deparei com o desafio de montar uma agenda de painéis que fizesse sentido para um profissional do audiovisual, um mercado que sempre nos exigiu criatividade e cujo mantra atual é o da inovação.

A criatividade, pelo menos para mim, já passou por um processo de desmistificação há algum tempo. Muitos dos mitos construídos pela indústria da publicidade já morreram. A criatividade não está mais restrita aos Dons Drapers das grandes agências, gênios que em um estalo declamavam slogans de grandes campanhas na frente dos clientes. Já não é mais discutido se a criatividade pode estar nas tarefas diárias de todos os profissionais. Ela é acessível, faz parte do processo, e não é, portanto, um fim.

Mas, e a inovação? Os mitos da inovação ainda estão sendo criados e digeridos por esse mercado em que os padrões de consumo mudaram. Eles são bem mais desafiadores que os mitos da criatividade, pois inovar pressupõe a criação de algo transformador. Nesse sentido, os grandes ícones da inovação, aqueles que estabeleceram parâmetros para esse termo, são as empresas de tecnologia.

Painéis de empresas do Vale do Silício ou de outros hubs do mundo tech formam imensas filas em eventos como o Rio2C, mas como eles estão mais concentrados no último dia do evento, pude, nesses primeiros dias, escutar as histórias de produtores de conteúdo próximos da nossa realidade.

Muitas vezes as histórias de sucesso da inovação tech tendem a ser contadas sem o meio da narrativa. Jovens do Vale do Silício montam um produto nas garagens de um cowork e instantaneamente damos um salto para o momento em que venderam a sua empresa por muitos milhões de dólares.

Devemos nos espelhar em cases das figuras mais conhecidas desse meio? Serão eles os novos Dons Drapers? Depois de uma rápida pesquisa, achei reconfortante saber, por exemplo, que Mike Krieger e Kevin Systrom, do Instagram, chegaram a trabalhar em uma empresa que estava desenvolvendo um produto bem similar ao que depois viria a ser o Instagram, e que plataformas concorrentes, com produtos muito parecidos, não vingaram por uma série de motivos alheios às decisões dos dois. Esse segundo ato da história nos mostra um processo bem mais perto de uma seleção natural do mundo dos negócios sem muito espaço para os mitos. Ou seja, o resultado não aconteceu do dia para noite.

Painéis como o dos criadores da série Pico da Neblina, da HBO, ou o que reuniu produtores e roteiristas dos filmes infantis da Globo Filmes colocam o conteúdo como protagonista e o processo criativo como algo humano e possível. Há espaço para dúvidas, negociações e concessões entre diretores, roteiristas e produtores.

Mesmo os criadores de séries de grande sucesso internacional, como Charlie Broker do hypado Black Mirror, se tornam fonte de inspiração para o nosso trabalho mais diário. Em meio a piadas típicas do humor Inglês, ele mostrou sua vulnerabilidade ao compartilhar suas angústias e aflições para desenvolver as histórias tão complexas para o filme interativo Bandersnatch, em que a audiência pode escolher a trajetória do personagem, e como ele teve que mudar o seu método de criação de histórias lineares para chegar nesse projeto inovador.

Os cases de sucesso do vale do Silício são, de fato, grandiosos, a história recente está sendo escrita por eles, mas acredito que nós estaremos bem mais inspirados a inovar se prestarmos atenção nas histórias que estão sendo construídas com criatividade ao nosso redor.

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