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Quem mexeu na minha realidade?

Hiper-realidade, uma condição onde o real e a ficção estão harmoniosamente mesclados, sem distinção clara para o usuário onde termina uma e começa a outra.


27 de abril de 2019 - 17h26

Um navegador acorda após uma terrível tempestade numa ilha aparentemente deserta. A medida que o dia entardece, percebe que não está sozinho, na ilha também habita uma bela mulher. Mas ela só aparece à noite, ele espera ansiosamente por cada entardecer, para conversar com a misteriosa dama. No meio do exílio forçado, ele acaba se apaixonando pela companhia. Aos poucos, o navegador enamorado, percebe que por mais que pareça real, na verdade, ele está vivendo numa espécie de simulacro, em que as ondas do mar, alimentam um estranho mecanismo, que liga e desliga um conteúdo gravado em algum tempo desconhecido.

Ouvi esta história há 25 anos e nunca mais esqueci. Na altura estudava na Escola de Comunicação, foi meu primeiro contato com a ideia de Simulacrum ou Simulação, naquela altura tratada dentro da visão do acadêmico e escritor francês Jean Baudrillard.

Corta para 2019, Rio de Janeiro, Rio2C.

O visitante entra numa cabine, coloca um dispositivo na cabeça e automaticamente se encontra dentro de um tempo, sente o calor da fogueira, é convidado por comandos de voz a realizar ações e resolver enigmas. Mesmo vivenciado um mundo imaginário e gerado por computação gráfica, seus sentidos se confundem, para a aventura deve arrastar uma cadeira física, segurar um espelho, retirar uma pedra. De repente muda de ambiente e está no topo de uma montanha com um enorme dragão, ali precisa vencer seus medos e andar sobre um precipício.

Ao lado, um grupo de amigos veste um equipamento sem fios, segura uns comandos manuais e estão dentro de uma batalha espacial, um consegue ver o outro. A fluidez é imensa, habitantes de outro planeta surgem de todos os lados e tentam matar a equipe, que bravamente usa toda a sua habilidade para salvar o planeta Terra. A sensação de verdade é absoluta, eles conseguem se esbarrar na realidade, estão todos ali mesmo. Ao retirar o aparato tecnológico dos participantes é possível visualizar as bochechas vermelhas de quem realmente acaba de travar um árduo combate.

No outro extremo do espaço, o visitante é convidado a entrar numa plataforma que está pronta para explodir, aperta um botão vermelho, dispara um elevador para o topo, lá deve atravessar uma plataforma a centenas de metros de altura e rodar uma manivela para evitar o incêndio. A cena é idêntica à da série televisiva.
As três situações são experiências disponíveis para o público no evento. Não apenas fala-se abertamente sobre a fusão das realidades física e virtual. Já é possível sentir na pele esta tal de hiper-realidade, capaz de causar sensações absolutamente realistas, que confundem o cérebro e transportam a imaginação e percepção dos visitantes para locais fantásticos.

Para quem experimentou os jogos acima, na ordem Venturion, The Last Squad (Arkave) e Ilha de Ferro, sabe a dificuldade do corpo e da mente em distinguir a realidade de uma simulação da realidade. E ainda estamos apenas engatinhando no percurso das realidades estendidas (XR). Agora, imagina quando óculos ou lente de contato alcançar a definição do olho humano?

Se você já estava bem com a sua realidade “real”, se assim posso chamar, vai se preparando mentalmente porque a hiper-realidade promete funcionar como uma cola da maneira como vamos perceber o mundo, uma espécie de costura entre o mundo físico e digital. Trata-se de uma nova forma de exploração da nossa realidade de interações e experiências, com possibilidades incríveis e inimagináveis.

Observação: se alguém conhecer o texto romântico citado no início deste artigo, me conta o nome, vou adorar poder mergulhar nele novamente.

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