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“Festa é lucro e é projeto social”, diz diretor do Rock in Rio

Roberto Medina falou sobre expectativas de retomar o maior festival de música do mundo e contou sobre a criação do The Town, evento que será realizado em São Paulo em 2023

Bárbara Sacchitiello
2 de maio de 2022 - 14h40

Roberto Medina falou sobre os percalços para a criação do Rock in Rio, há 37 anos (Crédito: Divulgação

Desde a primeira edição do Rock in Rio, em 1985, Roberto Medina, criador do festival e sócio do grupo Dreamers, gosta de manter um ritual. No dia de abertura do evento, mesmo em meio à agitação que sempre envolve uma empreitada desse porte, convida os diretores e profissionais envolvidos no projeto a pararem suas atividades e irem diante dos portões de abertura para ver a empolgação com que as pessoas atravessam a área e correm em direção ao palco. 

Isso, segundo ele, serve para que todos envolvidos no projeto entendam a dimensão e a importância de colocar todo aquele evento de pé e que, no fundo, tudo aquilo que levou meses – até anos – de preparo tem aquele objetivo: fazer com que as pessoas sintam aquela emoção e felicidade.

No palco do Rio2C, evento realizado na semana passada na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, Medina relatou algumas das várias histórias que se passaram ao longo dos 37 anos do Rock in Rio, evento que acabou reformulando o conceito internacional de festival de música e criando um novo patamar de experiências no mercado brasileiro.

“Tenho muito orgulho de ter ajudado um pouco, há 37 anos, a fazer com que a trajetória dos festivais de música do Brasil mudassem. Naquela época, não tínhamos luz adequada, nem som. E, hoje, o Rock in Rio é melhor do que qualquer evento de música do mundo”, orgulhou-se.

Medina disse que enquanto a indústria do entretenimento em todo o mundo busca sempre pensar fora da caixa, o Brasil tem a vantagem de já ser um mercado “sem caixa”, onde é preciso inovar e inventar constantemente para fazer as coisas acontecerem. Enfatizou, por diversas vezes, que para construir algo de sucesso é necessário “empurrar a porta”, já que não são poucos os momentos e situações em que os contratempos fazem ter vontade de “jogar a toalha”.


Encanamento de cerveja

O orgulho que o executivo sente ao ver o projeto em que o Rock in Rio se transformou é permeado de lembranças a respeito das dificuldades que tiveram de ser superadas para que o festival acontecesse e ampliasse seu prestígio ao longo dos anos. Antes da primeira edição do evento acontecer, em 1985, Medina disse que tinha certeza que mais de 1,5 milhão de pessoas passariam pelo local. Ao contrário dele, porém, os patrocinadores do evento não imaginavam que logo na primeira edição o evento atrairia tantas pessoas.

Quando viram que o público, de fato, seria aquele que Medina projetou, a Brahma, uma das patrocinadoras do evento, viu que não seria possível abastecer o festival com a Malt 90, marca de cerveja que seria lançada durante o Rock in Rio. O acesso que, até então, estava previsto para servir como corredor de entrada dos produtos seria tomado pela multidão assim que os shows começassem, impedindo o reabastecimento de bebidas pelas equipes. Foi aí que Medina conta ter tido uma ideia. “Falei que poderíamos pegar caminhões pipa, enchê-los de cerveja e usar mangueiras de bombeiro para bombear a cerveja do caminhão para dentro do festival. E assim foi criado um duto de cerveja para abastecer o público que estava ali”, recorda.

Encontros pós-pandemia
O criador do Rock in Rio se mostrou muito empolgado com a edição de 2022 do festival pelo fato de que celebrará o reencontro das pessoas após mais de dois anos de pandemia. “Foi muito difícil a vida ao longo desses dois anos e meio e vamos ter de compensar isso. Mais do que nunca, a música será fundamental. A música não é de direita e nem de esquerda: ela une os diferentes. E acredito que será capaz de dissipar algumas energias negativas e de unir as pessoas neste ano”, projetou.

O executivo falou também sobre os negócios gerados pelo evento e o impacto na economia e nos negócios do País. Quando se apresentou no palco do Rio2C, Medina contou que, naquela semana, a organização havia aberto 300 vagas para profissionais de apoio para o Rock in Rio deste ano. Mais de 23 mil pessoas se inscreveram para disputar os postos de trabalho. “É uma pena que o Brasil não tenha política pública para eventos e cultura. Nunca a questão do turismo cultural foi levada a sério, nem agora e nem em anos anteriores, senão esse mercado poderia ser muito maior”, criticou.

The Town

Roberto Medina também contou sobre a ideia do The Town, novo festival de música que o grupo Dreamers promoverá em São Paulo, em setembro de 2023. Segundo ele, não foram poucas as vezes que o governo do Estado e prefeitura de São Paulo tentaram levar uma versão do Rock in Rio para a capital paulista. O maior obstáculo, segundo o executivo, era a falta de um espaço adequado para receber os shows.

Durante a pandemia, enquanto estava precisando inventar coisas diferentes, como ele disse, Medina achou que o projeto de um evento em São Paulo poderia ser tangibilizado. Após conversas com a prefeitura, ficou acordado que a organização transformaria o espaço do Autódromo de Interlagos, colocando banheiros e uma infraestrutura para comportar seis palcos diferentes de shows e apresentações de artistas de diferentes estilos. Segundo Medina, a expectativa é reunir 660 mil pessoas e gerar mais de R$ 1 bilhão para a cidade de São Paulo. 

“É importante que esse setor de eventos entenda a importância que tem. Os políticos não entendem ainda que festa é lucro e é também uma iniciativa social. Por isso vou ficar ainda enchendo o saco dos políticos por muito tempo e estimulando-os a fazerem coisas novas”, destacou.

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