Publicidade

Emoção e razão não são antagonistas no cérebro humano

Você pode e deve comunicar atributos racionais, mas sempre arquitetando em torno deles contextos narrativos emocionais


24 de abril de 2019 - 17h54

Uma das novidades que chama a atenção nessa edição 2019 do Rio2C é o espaço dedicado exclusivamente ao cérebro humano. Com uma intensa programação durante os seis dias do evento, o Brainspace está trazendo pesquisadores especialistas em neurociência para debater os mistérios e achados científicos sobre esta pujante máquina de geração de significados e atitudes que temos instaladas em nossos corpos. Acredite, não há machine learning mais poderosa que esta.

Na palestra “Neurociência e Educação”, o pesquisador brasileiro Guilherme Brockingston, físico com doutorado em educação e pós-doc em neurociência, falou muito sobre o papel da emoção no processo de aprendizagem que acontece no cérebro humano. Sua paixão na vida é formar um ser humano melhor por meio de uma aprendizagem melhor. Para isso, estudou e entendeu como se dá o processo de aprendizagem de forma profunda.

Brockingston comentou que geralmente quem cursa e atua nas ciências exatas costuma nutrir uma visão deturpada sobre as emoções humanas. Até mesmo preconceituosa, pode-se dizer. Como forma de ilustrar isso, ele citou uma frase do Dr. Spock em Jornada nas Estrelas: “as emoções são alienígenas para mim, porque eu sou um cientista”.
De fato, é no mínimo curioso como a emoção e a razão sempre foram, historicamente, tratadas como dimensões desconexas e distantes, para não dizer conflitantes e antagonistas. Mas o próprio Brockingston admitiu que quando ele parou para pensar, percebeu que as decisões mais importantes da sua vida foram baseadas na emoção.

E você sabe por que isso acontece?

Porque o que move o comportamento humano não é a razão ou o pensamento racional. A gente pode encher a nossa comunicação de atributos racionais que podem ser profundamente vantajosos e até disruptivos ou inovadores. Mas o que leva as pessoas à ação, a sair do lugar e se mexer, não é a mesma área do cérebro responsável pela apreensão e articulação dessas informações racionais. E por isso, a razão não move como a emoção faz. A própria palavra “emoção” vem do do latim “movere”, ou seja, está intrinsecamente ligada à ideia de movimento, de sair da inércia, de mover-se em múltiplas direções. Isso fica muito claro em algumas traduções, como no inglês “emotion”, onde a ideia de movimento aparece claramente. É isso que a emoção faz com a gente.

Essa relação entre emoção e razão foi justamente o objeto de estudo do neurocientista português Antonio Damasio, sobre a qual ele ajudou a reconfigurar o entendimento científico geral. Citado por Brockingston na palestra, Damasio revelou que na verdade há uma profunda colaboração simbiótica entre elas. São duas forças totalmente interdependentes. Uma não funciona sem a outra. Na verdade, uma funciona melhor em articulação com a outra. Damasio descobriu e comprovou que a emoção não era dispensável ou meramente acessória e sim um elemento profundamente necessário para a aprendizagem e apreensão cognitiva.

O fato é que você aprende e apreende de fato algo se aquilo te emociona. Se aciona os seus recursos biológicos da empatia, dos vínculos emocionais. E isso não quer dizer aulas ou formas mais criativas apenas, como os professores de cursinho pré-vestibular fazem. Significa a construção de fortes elos emocionais perenes.

E hoje, no mercado, a guerra está se dando no campo simbólico. E isso ferve dentro do cérebro das pessoas, não na carteira ou no bolso. Você pode e deve comunicar atributos racionais, mas sempre arquitetando em torno deles contextos narrativos emocionais que acionem a psique humana em suas camadas mais profundas. Precisamos sempre encaixar nossos produtos e serviços em perspectivas positivas em meio aos infinitos pontos de composição e conceitualização do espírito do tempo que rege o sentimento humano naquele espaço-tempo presente. E isso se dá pelas mãos da emoção. Sempre.

Publicidade

Compartilhe

  • Temas

  • 100DiasdeInovação

  • Rio2CnoMM

Patrocínio