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Globoplay exalta a vida longe da “ditadura da TV aberta”

Para o CEO da operação, João Mesquita, o fato de não precisar agradar a uma massa de audiência permite à plataforma ousar no conteúdo e buscar novos modelos de negócio

Bárbara Sacchitiello
26 de abril de 2019 - 7h49

João Mesquita, CEO da Globoplay: “Acredito profundamente nesse projeto” (Crédito: André Valentim)

Não há, ao menos a curto prazo, a perspectiva de o streaming gerar a mesma receita de TV aberta e paga que sustenta o Grupo Globo. Ao fazer essa afirmação, no entanto, João Mesquita, CEO da Globoplay, demonstra conforto. Segundo o executivo, os acionistas do maior conglomerado de mídia da América Latina estão cientes de que este é o momento exato para investir na transição dos hábitos de consumo de conteúdo dos brasileiros. “Acredito profundamente no projeto do Globoplay e acredito que podemos ser um case internacional. A posição da Globo é privilegiada por estar na liderança em alcance e faturamento na TV aberta e na TV fechada. Por isso, a postura de nossos acionistas é de que a hora de investir dinheiro nesse projeto e virar todos os canhões para construir esse produto de forma pensada e organizada é agora”, disse Mesquita.

Em apresentação na Rio2C, o líder da atual menina dos olhos do grupo não hesitou em fazer críticas aos players internacionais de streaming (que têm na Netflix sua mais popular expressão) e nem em reconhecer que a própria postura da empresa como TV aberta traz restrições e amarras que deixam de existir quando se produz para o segmento on demand.

“O fato de não estarmos presos ao que chamo de ditadura da TV aberta permite que possamos ir além, trabalhando e experimentando vários segmentos. Não temos a lógica de ter de agradar a maioria. Podemos ter conteúdos mais ousados, modernos e diversos”, reconheceu Mesquita. Confira abaixo as principais opiniões do líder da Globoplay a respeito da indústria do streaming, concorrência e investimentos no setor.

Gratuidade como porta de entrada
“Temos o desafio de explicar ao consumidor que temos identidade própria e não somos apenas o catch-up do conteúdo da TV Globo. Mas isso é um elemento positivo, pois quanto mais gente trouxermos até nós via catch-up (pessoas que acessam a Globoplay de forma gratuita para assistir a trechos de conteúdo da programação), mais conseguiremos conhecer essas pessoas. Pelo fato de fazerem login, vamos conhecendo quem são esse público, o que assistem e reunindo elementos que nos permitirá, futuramente, fazer ofertas para converte-lo para nossa base paga”.

“A intenção do grupo não é produzir tudo aquilo que exibe. Queremos que, no futuro, o Globoplay seja um hub de produção de conteúdo no Brasil.”

 

Ditadura da TV aberta
“Estamos criando um produto que tem formas diferentes de chegar ao consumidor final. O fato de não estarmos presos ao que chamo de ditadura da TV aberta nos permite ir além e trabalhar vários segmentos, pois não precisamos seguir a lógica de agradar à maioria. Podemos ter conteúdo mais ousados, mais modernos e diversos. Quando fazemos algo como Sessão de Terapia por exemplo, sabemos que nunca será algo consumido por 40 milhões, mas que será bom para um grupo significativo de pessoas. Queremos oferecer qualidade absoluta para segmentos relevantes. Claro que, não adianta nada termos produções de qualidade se as pessoas não quiserem assistir. Mas não precisamos agradar à vários públicos, sempre. Há produtos do Globoplay que não são adequados para a grade da Globo, mas que agradam a um número significativo de pessoas. Não estar preso às limitações da TV aberta permite ao Globoplay brincar e falar de forma livre, criativa e jovem ao público e, com isso, contribuir também para a evolução da marca Globo.”

Concorrência com players internacionais
“Foi bom que a concorrência chegou antes para ensinar ao público brasileiro o que é streaming, pois agora não precisamos gastar um centavo para mostrar às pessoas como ele funciona. Por mais que essas empresas apresentem um modelo tailor made para o mercado brasileiro, nós não somos prioridade. Os Estados Unidos sempre serão a prioridade. Muito se fala sobre os grandes investimentos que esses players fazem em produções, mas temos de pensar qual fatia disso é realmente investida no Brasil. Eles tem de lidar com a premissa de agradar a muitos territórios diferentes, o que implica em custos de tradução para a Hungria, Estônia, Lituânia e ações de divulgação diferentes para cada um desses países. O custo disso é muito alto. Estamos focados em um único País e, mesmo com as dificuldades econômicas locais, isso nos dá mais conforto. Podemos ser o único caso do mundo de um grande player nacional de streaming que também agrega conteúdo de outras empresas globais.”

Sem pressão financeira
“É muito bom trabalhar em uma empresa em que conhecemos as caras dos acionistas. Há uma mudança de mentalidade do Grupo Globo de que esse projeto não pode estar ao sabor dos resultados trimestrais. Não há como o Globoplay e o streaming substituirem as receitas que o grupo obtém via TV aberta e TV fechada. Obviamente, queremos ser significativos e rentáveis, mas está claro que ainda não é o streaming que irá substituir a receita que temos. Sabemos inclusive que os resultados podem ser menores no primeiro momento, mas a ideia é que o trabalho se consolide e dê resultados a longo prazo. Claro que, em algum momento, isso pode mudar, mas há uma clareza de que não é necessário das satisfações sobre faturamento em curto ou médico prazo.”

“Quando fazemos algo como Sessão de Terapia por exemplo, sabemos que nunca será algo consumido por 40 milhões, mas que será bom para um grupo significativo de pessoas. Queremos oferecer qualidade absoluta para segmentos relevantes.”

 

Uma Só Globo no streaming
“O fato de o grupo ter outras plataformas de streaming e outros canais cria um fator competitivo enorme, diferente de outros concorrentes. Já temos mais de 50 conteúdos do acervo da Globosat e, em breve, teremos o acervo completo de toda a programação desses canais. Discutimos uma forma de colocar todos os streamings da Globo, inclusive o Premiere, em um único aplicativo pois isso traria vantagem financeira ao assinante. Já é possível assinar a Globoplay em conjunto com Telecine Play por um preço menor, mas estudamos maneiras de reunir todo o conteúdo da Globo em um único aplicativo.”

Produções originais
“Procuramos produzir conteúdo com espírito jovem e que também contemplem e retratem diferentes regiões do Brasil. A produção de mídia no País é muito focada no Rio de Janeiro e um pouco em São Paulo também, e é necessário sair um pouco desse foco carioca. Buscamos temas mobilizadores, pois o cidadão jovem é mais participativo e tem consciência de seu papel como cidadão do mundo. Procuramos também histórias que geram mais engajamento e tenham mais camadas de significação. As histórias da TV aberta são, geralmente, mais previsíveis e mais fáceis de serem acompanhadas. Quando miramos um target diferente, nossas séries só serão relevantes se oferecerem algo diferente. É preciso ter vários arcos, novas estruturas e temas e não ser tudo óbvio. A visão de franquia, que é a possibilidade de exibir produtos em temporadas, também é algo bem significativo para nós.”

Hub de produção nacional
“A intenção do grupo não é produzir tudo aquilo que exibe. Queremos que, no futuro, o Globoplay seja um hub de produção de conteúdo no Brasil. Há muitas soluções no caminho e muitos formatos possíveis de produção. Para isso, também é necessária uma mudança de mentalidade para que o grupo abrace mais o restante do Brasil. Se o grupo quer ser dominador na produção de conteúdo e de talentos, temos de abrir espaço para outras áreas deste País, que é continental e privilegiado e oferece diferentes possibilidades de ideias e produções.”

Novas atrações
“Em termos de conteúdos originais para o Globoplay, em breve lançaremos Aruanas, uma produção sobre a exploração da Amazônia, as comédias Shippados e Eu, a Vó e a Boi a série Divisão. Também teremos a quarta temporada de Sessão de Terapia, produção originalmente feita pelo GNT e que agora entrará primeiro em nossa janela de streaming, além da segunda temporada de Ilha de Ferro. Já em relação às séries internacionais, continuaremos aumentando continuamente o cardápio. Temos as segundas temporadas de The Handmaid’s Tale e Killing Eve e as estreias de Deadly Class e Pretty Little Liars.”’

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