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O espaço da inteligência artificial na música

Tecnologia permitirá que o fluxo criativo se expanda e acelere o processo, levando-nos a lugares antes inalcançáveis


26 de abril de 2019 - 22h07

O painel apresentado pelo músico e pesquisador François Pachet no Rio2C, suscita, por enquanto, certo ceticismo quando o tema é a aplicação de inteligência artificial na música. A desconfiança, como explica François, diretor de pesquisas tecnológicas do Spotify, é justificada. O uso de inteligência artificial costuma obedecer a códigos de linguagem binários.

Na aplicação da ferramenta nos carros da Uber sem motoristas, por exemplo, o software “compreende” que nas curvas à esquerda, o carro deve ser impossibilitado de virar à direita. Ele é orientado por uma finalidade, a de não colidir. No universo subjetivo da arte, entretanto, não existem finalidades. Músicas não possuem uma maneira correta de serem feitas e, como vemos em muitos cases da indústria, são justamente as imperfeições, os acidentes humanos (a distorção na guitarra dos Beatles); pequenas desafinações (alguns dos hits de Lou Reed); harmonias imprevisíveis (a Bossa Nova de Tom Jobim) que constroem grandes clássicos. Se ainda acrescentarmos a esta equação a poética presente nas letras, a coisa fica ainda mais complexa.

Por este motivo, na Sala da Música no Rio2C, em dois painéis anteriores, palestrantes manifestaram insatisfação com a possibilidade de máquinas produzirem canções. Entretanto, Pachet deixa claro que esta não é sua pretensão. O que o músico e cientistas desenvolvem no laboratório parisiense são ferramentas para auxiliar profissionais no processo de composição e produção fonográfica.

Baseados nos conceitos de forma e matéria de Aristóteles, os softwares de aprendizagem podem identificar, isolar e misturar elementos estruturais das músicas, como arranjo, melodia e voz. Na prática, isso possibilita a criação, com alguns cliques, de uma música com Frank Sinatra cantando Fly Me To The Moon, mas na melodia de Parabéns Pra Você, sob o arranjo de Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal. Essa já é uma possibilidade utilizada por muitos profissionais da indústria no processo de composição e produção de músicas novas.

O que a ferramenta permitirá é que o fluxo criativo se expanda e acelere o processo, levando-nos a lugares antes inalcançáveis. É a máquina ajudando o ser humano. Este continua essencial no processo criativo, autoral. Como o produtor musical Liminha lembrou, na manhã do mesmo dia, quando surgiram as interfaces digitais para gravação de áudio, muitos profissionais fizeram cara feia. Hoje, a maioria considera chato gravar em fita. “Achavam trabalhoso”, ironizou ele.

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