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E quando o decisor de compra for um robô?

Quanto mais estamos imersos em tecnologia mais estamos suscetíveis a termos osnossos hábitos hackeados e incorporados em uma imensa nuvem de informações


28 de março de 2018 - 8h31

Dados e algoritmos regem nossas vidas (crédito: Sergey Nivens/iStock)

Os dados e algoritmos regem as nossas vidas. Humores e amores, decisões de compra e de voto. Robôs manipulados e manipuladores que decidem a temperatura das relações humanas e como percebemos o mundo à nossa volta. Somos todos humanos algoritmicamente robotizados. Nós, a raça humana, sendo levada ao estágio mais avançado do que McLuhan preconizou ao dizer “nós moldamos as ferramentas e então as ferramentas nos moldam”. E como moldam.

Nada disso ocorre à nossa revelia ou por sermos obrigados a tal. Muito pelo contrário. Quanto mais estamos imersos em tecnologia — e como ela facilita nossa vida, não é mesmo? — mais estamos suscetíveis a termos os nossos hábitos hackeados e incorporados em uma imensa nuvem de informações que serão vendidas por quantias módicas no segundo seguinte. Como Eli Pariser afirma em seu livro O Filtro Invisível, “se você não está pagando por alguma coisa, você não é o cliente, você é o produto à venda”.

No mercado do entretenimento e da produção de conteúdo, dois dos exemplos mais citados em palestras ao redor do globo são Amazon e Netflix. A gigante de Jeff Bezos, hoje o homem mais rico do mundo, conhece mais sobre meus hábitos de leitura do que nenhum livreiro na história jamais supôs conhecer. O mesmo pode-se dizer em relação ao Netflix, cujos algoritmos substituem o mais cinéfilo, simpático e cordial dos atendentes de locadora — para os mais novos, locadora era uma loja física no mundo real das coisas onde você ia, presencialmente, para alugar filmes em suportes físicos como fitas VHS e DVDs, o que hoje fazemos com dois cliques sentados em nossos sofás.

Além de otimizar o seu machine learning para oferecer os filmes certos, na hora certa, para a pessoa certa, o Netflix agora produz e lança novos conteúdos totalmente setados pelos hábitos das pessoas. Analisam meticulosamente em que momento os usuários abandonam ou pausam um conteúdo, que blend de personagens vinculados a cada causa relevante precisa ter, que arquétipos e funções na trama as pessoas gostam mais, que arco narrativo menos perde views ao longo do desenrolar da trama, e por aí vai. Mas é aí que eu te pergunto: não era mais ou menos por isso que a televisão sempre fora tão atacada? Por nivelar a qualidade dos conteúdos para atingir um número maior de pessoas, views e eyeballs? Os perigos desse movimento já aparecem. Séries homogeneizadas, estruturas narrativas mecanizadas, personagens previsíveis. Tudo comprometendo o que poderíamos chamar de arte em seu estado mais puro, transgressor, provocativo e libertário.

E a cada dia novos exemplos vem sendo adicionados nessa longa lista. De serviços de streaming de música, como Spotify e Apple Music; de transporte, como Uber e Lift; de entregas rápidas, como Rappi e Glovo; aos “senhores magnânimos de todos os saberes”, o Google e o Facebook, com suas onipresenças em todos os aspectos de nossas vidas. Todos com acesso irrestrito ao que Negroponte chamou do nosso “diário do eu” e sabem mais sobre a sua vida do que a sua mãe jamais sonhou fazê-lo.

E como as marcas podem fazer para serem aceitas como parte dessa jornada diária e “algoritmicamente” robotizada das pessoas, levando em conta que 60% do conteúdo produzido pelas empresas é considerado pobre, irrelevante e mal distribuído? “Flutuando como um beija-flor, picando como uma abelha”, é o que dizia Muhammad Ali sobre seu estilo de luta. Devemos ser discretos e sutis a maior parte do tempo. E relevantes, frictionless e helpful no momento certo, entregando algo profundamente útil, aderente aos interesses e necessidades de cada pessoa, em cada micromomento. Em um mundo repleto de volatilidade e complexidade, há inúmeras oportunidades para isso. Onde uns veem o caos, enxergue possibilidades.

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