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Handmaid’s Tale e a realidade por trás da distopia

Um dos destaques da Rio2C foi um painel com Bruce Miller, roteirista e showrunner da série da Hulu, que falou sobre a atualidade da série diante de discussões como a polarização política e desigualdade de gêneros

Karina Balan Julio
4 de abril de 2018 - 16h04

Uma das séries que mais se destacou no último ano é a produção Handmaid’s Tale, série da Hulu baseada no livro de Margaret Atwood. A série foi lançada em abril de 2017 e terá sua segunda temporada lançada no próximo dia 25, nos Estados Unidos. Bruce Miller, roteirista e showrunner da série, foi o destaque da programação da Rio2C nesta quarta-feira, 4.

Durante o painel que abriu a programação da conferência, ele contou que jamais imaginou que a série geraria tanta repercussão mundialmente – ao todo, Handmaid’s Tale foi indicada a mais de 40 prêmios do audiovisual, ganhando o prêmio de melhor série dramática em prêmios como Emmy Awards e Globo de Ouro.

Antes do painel com Bruce Miller, as “aias” de Handmaid’s Tale circularam pelo Rio2C, na Cidade das Artes. Foto: Karina Balan

Também disse que não esperava que a série fosse caminhar tão próxima dos acontecimentos políticos do último ano. “Não queria que parecesse tão real”, disse Miller. Diante das fake news e polarização política, Handmaid’s Tale foi aclamada pela crítica por trazer paralelos com a atualidade, narrando um futuro distópico onde uma facção religiosa toma o poder nos Estados Unidos e estabelece um regime totalitário, restringindo direitos e a liberdade de expressão.

“Sempre fui um escritor viciado em notícias de política, e na sala de roteiristas todo mundo acaba falando muito disso, o que de forma inconsciente interfere no processo de criação. As força que modelam a política atual são as forças que tentamos reconhecer e destacar no show”, contou ele.

Em uma coincidência bizarra, ele conta que a equipe e roteiro chegou a utilizar a expressão “make America great again” nos primeiros tratamentos de roteiro. Essa parte acabou de fora da série justamente porque, posteriormente, o mote foi adotado por Donald Trump durante sua campanha presidencial.

“Outra coisa que fizemos foi gravar uma cena incrível de uma pessoa fugindo dos Estados Unidos para o Canadá para a primeira temporada, e duas semanas depois vimos uma notícia com refugiados em uma cena muito parecida”, relembra.

A questão de gênero também é um dos pilares centrais da narrativa de Handmaid’s Tale. Nos bastidores, Bruce afirma que tenta trazer o maior número de profissionais mulheres e afirma que a maior parte do time de roteiristas é de mulheres.

“Acredito que há um problema de storytelling, além de um problema de gênero. Como nessa série a questão de gênero, das relações de poder e do assédio é muito forte, era muito necessário que houvesse mulheres no time. Um exemplo muito prático é que mulheres olham para o corpo das mulheres de forma muito diferente de homens. Até na forma de pensar os planos e enquadramentos, elas não sexualizam o corpo feminino”, afirma.

“Tenho uma política de não tolerar idiotas na equipe, o que na verdade é muito raro na indústria. Prefiro pegar um ator que não sabe atuar tão bem mas é legal,  do que alguém com comportamento abusivo”, disse Bruce

Com as crescentes discussões sobre assédio na indústria audiovisual, Miller foi categórico ao dizer que o critério moral é o mais importante para seus castings. “Tenho uma política de não tolerar idiotas na equipe, o que na verdade é muito raro na indústria. Prefiro pegar um ator que não sabe atuar tão bem mas é legal, e aí você consegue trabalhar para melhorar a performance dele, do que ter alguém idiota na equipe. Não dá para ter alguém com comportamento abusivo, pois a pessoa estraga o trabalho e a performance de todo o time”, avalia.

Com um estilo de direção e roteiro mais livre, Bruce gosta de dar abertura para que atores possam colaborar nas etapas mais variados da produção – atriz Elizabeth Moss, que protagoniza a série, é também produtora de alguns episódios da primeira temporada. O produtor destacou as mudanças na função do showrunner com a chegada das plataformas de streaming e formatos mais flexíveis.

“Hoje há tantas plataformas que o tamanho da equipe sob o guarda-chuva do showrunner é muito maleável. Você pode ter um showrunner que lida com dois roteiristas para poucos episódios ou um showrunner com equipes enormes de roteiristas, como em Game of Thrones. A escala hoje é muito mais variável pois há muitas periodicidades diferentes e tipos de histórias de acordo com cada periodicidade”, disse.

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