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A nova família brasileira

Caracterizadas pela pluralidade, as diferentes composições familiares ainda não estão representadas na publicidade

Fernando Murad
24 de abril de 2019 - 8h31

Flavia, Ana, Thais e Denise: pluralidade das ruas não está representada na comunicação e nas empresas (crédito: André Valentim)

A tradicional família dos comerciais de margarina formada pelo pai, pela mãe e pelo casal de filhos, todos brancos, está deixando de ser a maioria no Brasil. Em 10 anos, a configuração homem, mulher e criança passou de 58% para 42,9% – a maior parte formada por pessoas negras, que representam 54% da população brasileira. O acesso à internet, a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da escolaridade e da renda entre as mulheres têm contribuído para esse movimento. Tanto é que as mulheres já representam a principal fonte de renda de 45% dos lares brasileiros. Os dados são da pesquisa Pelas Famílias Brasileiras, realizada pela consultoria criativa especializada em mulheres 65/10.

As mulheres que criam a prole sozinhas já representam 26% das famílias, enquanto apenas 3% são formadas por homens e seus filhos. Já os casais sem filhos por opção somam 19,9% deste universo – percentual impulsionado pelo crescimento da mulher no mercado de trabalho. Já as famílias reconstituídas, em que filhos vivem com seu pai ou mãe e madrasta ou padrasto, representam 16,4%. Por fim, as pessoas que moram sozinhas são 14%.

“A família brasileira são as famílias, sem contar as homoafetivas, que de tão ameaçadas não se manifestam em dados, mas estimamos entre 10% e 20%. Quanto mais conseguirmos retratá-las de forma normal, mais ajudaremos a protegê-las”, comenta Thais Fabris, Cofundadora da 65/10. “Hoje, as empresas não representam essa pluralidade. No discurso, ok, mas na prática não têm percentual igualitário de mulheres, negros, gays e lésbicas em cargos de liderança”, complementa Flavia Campos, diretora geral de planejamento da Artplan São Paulo.

Para Denise Gallo, diretora de criação da DPZ&T, estamos num lugar ainda insuficiente em relação à pluralidade das ruas. “As coisas mudaram nos últimos cinco anos, com marcas com essa intenção, mas ainda é pouco. Uma tradição secular não muda com uma campanha. Temos que ir além de conquistar um prêmio, precisamos mudar a cultura”, diz.

E não se adequar à realidade, na opinião de Thais, já está provocando impactos. “As empresas estão perdendo negócios para marcas que estão tendo velocidade para se adaptar”, afirma. “Melhorar a realidade não é responsabilidade só das corporações, mas faz parte do seu papel e algumas marcas reconheceram que ajudaram a construir estereótipos e estão agindo, como a Unilever”, exemplifica Ana Cortat, sócia-fundadora da Hybrid Colab. A Unilever lançou, em 2016, o movimento #Unstereotype, um compromisso global para combater os estereótipos na comunicação das suas marcas. A iniciativa chegou ao Brasil neste ano em parceria com ABA e a ONU.

 

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