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“Abram os olhos”

Maratona Rio2C chega ao fim com reflexão sobre identidade do conteúdo brasileiro


30 de abril de 2019 - 16h18

Qual é a métrica para aferir o sucesso de um evento? O número de menções? O engajamento dos participantes? O alcance do público? O Rio2C chegou ao fim e, provavelmente, os realizadores do maior evento de criatividade da América Latina – segundo a tagline deles – estão debruçados nas análises a respeito da edição 2019.

Com experiência em alguns eventos das mais variadas áreas, arrisco a dizer que o evento, de fato, começa agora. É claro que, de saída, é evidente a grandiosidade do Rio2C. Literalmente, ao ocupar a gigantesca Cidade das Artes. Metaforicamente, ao transformar o Rio de Janeiro em palco de uma mensagem direta e clara para a cidade e os brasileiros proferida pelo texano Louis Black, diretor e cofundador do SXSW: “abram os olhos! Lembrem quem são”.

Para conhecermos, de fato, o legado dos dias dedicados ao Rio2C, é preciso tempo para maturação. Os conceitos, os insights e as provocações ainda fervilham nas cabeças que percorreram aqueles espaços. O verdadeiro retorno sobre investimento virá após a decantação de tantos estímulos. Talvez, até inconscientemente. Mas, desde já, está claro que a tônica foi a urgência de reconhecermos a força da nossa identidade. Afinal, saber quem somos e nos valermos de nossa verdade faz com que a nossa criatividade seja original e interessante, alinhada com a construção e criação de impacto do mundo que queremos viver. No Rio de Janeiro, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Em qualquer idioma. E a programação do Rio2C mostrou que já tem muita gente pensando e agindo com isso em mente.

A favela venceu!
De olhos bem abertos e atentos à realidade, Konrad Dantas criou a Kondzilla, se transformou em case e benchmarking para quem busca entender o comportamento do consumidor ou usuário. Não à toa a palestra dele foi concorrida e inspiradora. Além de conhecer seu público acima das obviedades ou dos conceitos estabelecidos, Konrad mantém alcance, engajamento, renda e retorno enxergando singularidade na massa, construindo pontes sólidas entre consumidores e marcas que repensam seus conceitos e posicionamentos a partir das transformações que vivenciamos. Em outras palavras: Kondzilla faz da verdade a matriz de seu conteúdo.

Rio para ver, sentir e inspirar
Já comentei por aqui sobre o quanto o mix de áreas do evento era inspirador e cientificamente um ativo para a criatividade. A pluralidade de assuntos e as diferentes abordagens reiteraram o que a ciência apontava nas discussões sobre cérebro, inovação e criatividade no Brainsspace: se exponha ao novo. O caos do estranhamento é altamente produtivo e indicado para quem se pretende criativo e original em meio a uma avalanche de fontes, referências, telas e possibilidades.

E o que não faltou ao Rio2C foi estímulo. A diversidade nos painéis foi um ponto alto. O Rio de Janeiro para ver, se ver, sentir e inspirar. Mas o Rio2C também precisa reconfigurar o olhar geográfico. O evento, tal qual SXSW, pode – e deve – ser associado a cidade. Se até Louis Black, de Austin, reconhece a força do balneário, quem somos nós para questionar, não é mesmo? Porém, é preciso que, assim como no evento texano, a cidade se torne o endereço de vozes fora do eixo. Que seja palco e referência, mas não exclusivamente do Rio para o Rio.

A consolidação de um conteúdo verdadeiramente forte e genuinamente brasileiro passa pela descentralização do eixo Rio – São Paulo. O Brasil precisa redescobrir o Brasil. Trazer ao Rio de Janeiro mais vozes com outros sotaques trará ainda mais conhecimento, impacto e resultados. Outro ativo que pode tornar o Rio2C ainda mais relevante é fazer do evento o palco brasileiro dos lançamentos nacionais e globais de projetos inovadores, como Austin foi para o Twitter, o FourSquare, e por aí vai.

A programação trazia de startups aos PhDs. Do mainstream ao acadêmico. Porém, para o público hiperconectado e global, ficou a expectativa de descobrir novidades. Revelar projetos em fase embrionária, ainda pouco conhecidos do grande público, especialmente fora do Sudeste, oferecendo maior protagonismo a diversidade, pode ser uma das formas de levar o Rio2C para essa direção.

Corta para
A magia de uma história inspiradora! Pode até parecer que é em autodefesa, mas é impossível negar: consumidor, usuário, cliente, a empresa B2B ou B2C. Eu ou você. O que nos move e nos impulsiona como seres humanos são as emoções provocadas pelas boas histórias. Não por acaso o Konrad Dantas, da Kondzilla, lotou o Teatro de Câmara com o tema “O que é a Kondzilla?”, narrando a história pessoal – uma jornada de herói! – que o levou até ali. Uma história atemporal e universal, contada no palco, mas que poderia estar em qualquer tela ou formato. Justamente como defenderam alguns dos principais keynotes que falaram sobre conteúdo, impacto, relevância e consumo ao longo dos dias da maratona criativa.

É a hora e a vez do conteúdo. Com tantas referências, plataformas e inovações, vamos escolher como utilizaremos o nosso tempo, cada vez mais, a partir do retorno, das reações que teremos a partir do contato com determinado personagem ou história. Por isso mesmo, é mais do que urgente estarmos atentos as causas, as singularidades que nos compõem, aos debates que jogam luz sob variados pontos de vista e expõem outras variáveis. É a partir daí que alimentamos os nossos insights.

A gente sempre tem o que trocar
Trocar de sala no Rio2C, era trocar de chave no campo do conhecimento. Se expor um pouco em cada grande área. Parar e simplesmente observar, trocar algumas palavras com conhecidos ou desconhecidos entre uma mesa e outra rendia uma percepção ou insight. A gente sempre tem o que trocar com o outro. Quantas vezes você se pegou debatendo com um palestrante? Ele lá, no palco, no, literalmente, lugar de fala, e você ali, da cadeira, conversando com você mesmo sobre um ponto divergente?

Debate é troca e crescimento. Os painéis são interessantes, mas no confronto a gente ganha ainda mais. Se o tempo dos conteúdos era exato para tratar dos temas, sem esgotá-los e nem cansar os expectadores, por outro lado, a falta de debates em alguns momentos fez falta. Especialmente quando o palestrante seguia mais pelo caminho da apresentação de case ou era entrevistado e o público perdia o precioso resultado do confronto de ideias.

Até 2020, Rio2C
Na ressaca do fim do Rio2C, elencar pontos de atenção e sugestões sobre o evento é mais um teaser do que um final original. Como disse: o evento começa, verdadeiramente, quando termina. Repassar ideias, conversar sobre nomes e assuntos, debater estratégias e escrever esse artigo, por exemplo, são meios de reativar conceitos e organizar esse dashboard que o Rio2C fomentou no nosso mapa mental ao longo dos dias. Eu indico, fico à disposição para trocas e espero por 2020, para mais uma maratona criativa.

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