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Desaceleradora de pessoas e negócios

Idealizadora de plataforma defende que é positivo que a cultura slow seja debatida em espaços corporativos, já que o setor costuma ser resistente ao tema

Taís Farias
25 de abril de 2022 - 8h07

Michelle Prazeres, idealizadora do Desacelera SP (Crédito: Arthur Nobre)

Depois do hiato de dois anos causado pela pandemia da Covid-19, o Rio2C volta a ocupar o Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, desta terça-feira, 26, a 1º de maio. Mas, apesar da ânsia pelos encontros e da
aura de novidade que um evento de inovação pode trazer, a organização do festival escolheu a desaceleração, ou slow content, e o consumo inteligente de conteúdo como fios condutores para a edição de 2022.

Para Rafael Lazarini, criador do Rio2C, a ideia de pausar a rotina diária e mergulhar no universo de conteúdo e interação está, por si só, relacionada à premissa de desaceleração. Michelle Prazeres, jornalista, mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP, doutora em educação pela FE-USP e idealizadora do Desacelera SP, plataforma que se apresenta como uma desaceleradora de pessoas e negócios, defende que é positivo que a cultura slow seja debatida em espaços corporativos, já que o setor costuma ser resistente ao tema.

“Existem matizes desse cuidado”, conta Michelle. Apesar de algumas empresas já estarem dedicadas a promover o bemestar em iniciativas que se aproximam dessa ideia para o seu corpo de funcionários, pouco se discute o papel das companhias na construção da aceleração e na cultura da velocidade. “Ela pode promover cuidados específicos ou ser uma empresa comprometida com a qualidade de vida corporativa”, aponta.

Segundo a pesquisadora, o slow, trazido pelo movimento de desaceleração, não é sinônimo de devagar. “No cotidiano, o slow ajuda a pensar que estamos imersos em uma cultura de velocidade. A pressa
virou automática”, conta. Nesse sentido, a premissa básica do movimento é questionar quando a velocidade faz sentido e é necessária e em quais ocasiões ela apenas foi normalizada. Humanização e reconexão com os sentidos são conceitos-chave para o movimento slow.

Os valores da desaceleração inspiraram uma série de movimentos, como o slow media, que pensa o ritmo de produção e consumo de mídia na era digital. “Quando se fala em slow media, na prática, estamos
falando de uma força contracultural”, explica Michelle. Ela cita exemplos de veículos, como a Agência Pública e o jornal Nexo que, mesmo no ambiente digital, adotam um ritmo diferente de produção e consumo de conteúdo. No entanto, ela reconhece os limites do slow content ou slow media, já que ele pressupõe uma escolha individual do usuário. “Quem chega nesses conteúdos?”, questiona a pesquisadora, citando as desigualdades socioculturais brasileiras.

Dessa forma, o slow media se apresenta como uma luta contracultural, com limites explícitos, mas que contribui no alerta sobre a crise da hiper informação. “Comunicar é importante, mas como pensar em uma comunicação mais eficiente”, reflete Michelle. A mestra em comunicação e semiótica também enxerga uma dualidade no papel das gerações mais jovens, que são fruto de um mundo já acelerado, mas começam a buscar novas forma de vida. “Ao mesmo tempo que são essas gerações que refletem e são refletidas pela velocidade, é delas que podem surgir alternativas sistêmicas”, projeta a idealizadora do Desacelera SP.

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