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Como vender o jornalismo na era digital?

Especialistas comentam a importância de analisar os dados e entender os desejos dos leitores para conseguir trabalhar o jornalismo como produto

Carolina Huertas
27 de abril de 2022 - 13h05

Bárbara Sacchitiello (Meio & Mensagem), Marco Túlio Pires (Google), Camila Marques (Folha de S.Paulo) e Allen Chahad (Vibra Digital) (Crédito: André Valentim)

O jornalismo que antes se vendia pela necessidade de informação do leitor, hoje, precisa olhar para os dados, escutar a audiência e se adaptar para criar de produtos no meio digital. Foi isso que apontou o painel “Um olho na notícia e os dois nos dados: o fim da dicotomia entre bom jornalismo e audiência”, do Summit Rio2C by Meio & Mensagem. O debate contou com a presença de Marco Túlio Pires, coordenador do Gloogle News Lab; Camila Marques, editora de digital e audiência da Folha de S. Paulo; e Allen Chahad, head de produto da Vibra Digital.

Pires iniciou a conversa afirmando que o valor do jornalismo perante a sociedade não é mais algo que é dado apenas por sua existência, precisando, assim, ser constantemente conquistado. O coordenador explica que com a chegada do digital, diversos serviços que existiam dentro do jornal, como previsão do tempo e horários de teatro, por exemplo, foram se tornando temas superespecializados no digital, deixando os veículos com a produção do jornalismo em sua essência.

Neste caminho de transformação, Camila comenta que uma das problemáticas é a antiga prepotência presente no jornalismo, com o profissional olhando para o seu trabalho como uma necessidade óbvia de grande importância e acreditando que os leitores enxergam ou deveriam enxergar dessa forma. “O jornalista precisa deixar de ser um pouco prepotente. No sentido de que só o que eu faço importa, sem olhar para a audiência, para os dados, sem entender que produto e marketing não desmerecem o jornalismo que fazemos”, defendeu a editora.

Chahad também reforça que nesse momento de disputa por atenção o jornalismo foi se tornando menos atraente para o leitor. E, assim, surge a necessidade dos veículos de se adaptarem aos formatos mais apropriados e analisando os dados para ter um maior alcance e atrair os leitores. “Essa análise precisa ser feita não porque é mais importante conquistar audiência, mas porque desprezar o que ela está te dizendo que precisa e quer descobrir, seria uma ingenuidade muito grande”, disse.

Jornalismo como produto

Os especialistas afirmam que para essa problemática é preciso se basear no que os dados revelam e nos anseios da audiência, tornando, assim, o jornalismo um produto que as pessoas querem pagar. Para Pires, um dos passos a serem seguidos para isso é o pensamento do jornalismo como produto, porém, as pesquisas mostram que a posição mais difícil de se encontrar hoje na comunicação é o desenvolvedor de produto.

Como causa da dificuldade, o executivo a ponta o fato de as habilidades da criação de produtos não serem transferíveis. “Não dá para pegar uma pessoa de produto de e-commerce e colocar ela em uma redação, porque existem questões que são diferentes, além da grande diferença salarial”, disse. Diante do olhar comercial para o conteúdo jornalístico, Camila conta que apesar da Folha de S. Paulo ser criticada na época das eleições por ter pay wall em suas matérias, o site disponibiliza dois acessos por mês e mesmo assim muitas pessoas não usam. E que os leitores conquistados nesses momentos continuam assinando o veículo pois percebem o valor do material. 

A executiva também diz que olhar para os dados para essa criação de produto é olhar para dentro, prestando atenção não só naquilo que eles já reforçam, como qual público se interessa pelo material, mas levando a pensar porque não interessa a outros públicos. “Grande parte de olhar para os dados não é só olhar para o que dá certo, mas o que está sendo feito de errado. Por que as mulheres leem mais a Folha, mas ao menos tempo não são a maioria dos assinantes, por exemplo?”, questionou.

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