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Mano Brown e Criolo: O sentimento do rap  

Cantores comentam suas trajetórias na música e a importância da conexão com seus públicos

Carolina Huertas
3 de maio de 2022 - 12h47

Mano Brown, Larissa Luz e Criolo no palco do Rio2C 2022 (Crédito: Divulgação/Rio2C)

Se por um tempo, ou até mesmo ainda hoje, críticos acreditaram que exisiae uma maneira certa ou melhor de fazer música, associada à classe social ou ao estudo de quem estava produzindo, diversos artistas brasileiros vêm, através dos anos, tentando quebrar esse estereótipo.

A música como forma de expressão e identificação atravessa gerações e gêneros musicais. Mano Brown e Criolo estiveram no palco do Rio2C 2022, na semana passada, e falaram sobre o rap como instrumento de transformação social e as diferentes camadas que configuram esse ritmo que saiu do gueto e ganhou o mundo, movimentando hoje milhões e influenciando os comportamentos.  

Brown contou que sua carreira no rap começou como uma brincadeira, aos 17 anos, quando escutou um rap americano pela primeira vez ao descobrir sobre um festival que aconteceria. Na época, ele conta que acreditava ser impossível fazer rap em português e que achava que o ritmo não tinha nada a ver com ele.  
O cantor comentou que a primeira letra que escreveu inclusive, acabou jogando fora. Hoje, Brown é considerado uma das maiores referências do gênero. Além de ter começado jovem, suas músicas atravessam gerações, mas ele comenta que hoje em dia, os jovens que começam no meio musical já chegam com suas crenças e convicções firmes, o que não aconteceu de primeira emm sua época.  

Como ponto de encontro de sentimentos e histórias, os dois profissionais afirmam que o rap é um espaço de troca, salvação e liberdade. “Às vezes meu desabafo vira música e chega perto de alguém que queria desabafar também. Nos conectamos, a arte faz nossas moléculas se unirem. Sempre tem uma frase de rap para alguma coisa que está acontecendo na sua vida”, comentou Criolo.  

O cantor afirmou que vê o gênero musical se constrói, em sua essência, como uma conexão entre os músicos e o público, muito além do entretenimento. Para ele, tudo que compõe o rap está conectado a um padrão vibratório que passa de geração em geração e deságua em uma arte contemporânea e que, mesmo em meio a diversas dificuldades, não retrata apenas a dor. “Eu acredito que a gente vai construindo e reconstruindo algum lugar de alegria no meio de tanta dor e isso é tão forte que faz com que a gente se conecte-se”, revelou. 

Cara fechada  

Os rappers foram questionados pela mediadora, a cantora Larissa Luz, sobre a visão que as pessoas têm de o rap ser um estilo musical onde os intérpretes estão sempre mantendo uma postura fechada e rígida. Criolo pontua que por vir de espaços de periferia, muitas vezes é preciso adotar esse posicionamento para ser levado a sério.  

“Eu quero muito sorrir, demais. Mas é capaz de você sorrir e ser amassado, ser destruído e não levarem a sério a ideia de que você está falando. Às vezes você vai cantar e não sabe o que vai enfrentar. Como te enxergam daqui? Porque até então são jovens vivendo o sonho de se expressar, era longínquo e distante achar que alguém um dia ia poder ter a oportunidade de se imaginar que poderia viver disso, que seria respeitado. A exclusão vem desde sempre”, contou Criolo.  

Seguindo a mesma ideia, Mano Brown contou que talvez ele mesmo tenha inventado essa questão, mas que também vem desse lugar da busca pelo respeito, principalmente no começo de sua carreira. O artista conta que a ‘cara feia’ era o caminho que ele encontrava para se esconder, pois era necessário ter uma postura mais firme, mas também aponta que apenas 20% era marra, pois o resto está também envolvido com o lugar que ele enxerga o homem preto na sociedade.  

“Aí é lugar de fala meu, tá? O homem negro tem que ser mais duro, ele tem que ceder menos, tem que assumir a mulher dele, os filhos, bater de frente com o emprego dele. Parar de correr e ser vítima. Então essa postura de bater de frente não é marra, é disposição mesmo”, explicou.  

Conexão e valores  

Dentro da questão de ser respeitado no meio, Brown também falou sobre estar sempre refletindo e se questionando sobre seus valores e crenças, também em respeito ao público, mesmo que em determinadas situações ele não seja bem interpretado. Para ele, ser verdadeiro e transparente com seu público é essencial.  

“Se eu mudar meu pensamento, tenho que avisar. E é o que eu tenho feito durante os anos. Não é traição, é outra ideia. Tanto esse rapaz que está com o isopor de refrigerante nas costas e cantando Racionais com a alma dele, como o playboy que está no camarote, também vão me questionar em algum momento. Se eu realmente sou o que eu falo, seu eu sou o que eu sou, se eu continuo sendo o que eu era. Se eles não me questionarem, eu estaria acomodado. Eu me cobro muito para não trair a confiança dos que me amam”, concluiu.  

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